Desde que decidi vir pra cá eu sempre soube que sentiria muita saudade das pessoas que eu amo. Mas a verdade é que quando tu tens o mundo te esperando pra uma visita, o fato de pensar na saudade que se sentirá estando longe não é o foco principal. Quem conviveu comigo antes de eu vir pra cá sabe que eu pouco falava na viagem. As pessoas me perguntavam por que eu não falava muito, mas na verdade eu não sabia bem... Acho que devia ser porque queria viver todos os momentos sem pensar que eles eram os últimos dos próximos meses...
Quando se tem 19 anos de idade, a gana de sair de uma cidade interiorana e cair no mundo é enorme. Sabe-se o elevado numero de jovens viajantes que tem pelo mundo afora. Pensar na saudade, na família e nas amigas que vão ficar longe é quase um desaforo. Que nada! Isso é quase um insulto, principalmente num país onde poucas pessoas têm a oportunidade de fazer uma viagem onde se gasta muito, e em euros.
E então eu vim. Vim pra um país de primeiro mundo, e logo de chegada já entendi o porquê do titulo, mas perdoe, a saudade é inevitável.
Na gramática Saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe na língua portuguesa. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), J'ai regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão). No idioma inglês encontramos várias tentativas: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país), longing e to miss (sentir falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância). Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o que sentimos, são apenas tentativas de determinar esse sentimento que nós mesmos não sabemos exatamente o que é, só sabemos que dói muito mais que torcer o tornozelo, trancar o dedo numa porta ou bater com o queixo no chão.
Aqui, eu aprendi a ter saudade de coisas mínimas, coisas que diante dos nossos olhos se tornam invisíveis no dia-a-dia, mas que com a distancia aprendemos a enxergá-las novamente. Aqui eu aprendi a ter saudade até do que me irritava, como da inquietude do meu cachorro ou do meu pai pedindo um abraço depois de voltar suado do futebol. Eu sinto falta das pessoas. Eu sinto falta das minhas amigas, das nossas programaçoes, das visitas inesperadas que elas faziam na minha casa(talvez nao saibam o quanto aquilo me deixava feliz), dos nossos mates, nossas confidências e risadas gostosas que eu só do com elas, porque nem aqui, nem em qualquer lugar do mundo, alguem vai conseguir subsitui-las. Sinto falta de todas as refeições com a minha família. Eu sinto falta do sorriso, da meiguice e do cheirinho da minha mãe. Eu sinto falta das conversas diárias com meu pai, de ouvir ele entrando todas as noites no meu quarto pra ver se já adormeci. E sinto muita, muita falta dos beijos e abraços diários destes dois. Eu sinto falta das intermináveis perguntas antes e depois das festas(onde tu vai, com quem, que horas tu voltas, que horas chegasse em casa). Eu sinto falta das comidinhas gostosas da Fátima e das cheiradas do meu cachorro. Eu sinto falta de cruzar com meu irmão pela casa e trocar alguma idéia sobre um assunto qualquer, ou de ver minha irmã chegar em casa de Porto Alegre nos finais de semana. Eu sinto falta dos meus avós. E eu sinto muita falta da pessoa que fez com que essa viagem hoje esteja sendo mais colorida. Uma pessoa que fez eu descobrir em mim uma nova Elisa e que esta comigo em cada segundo que passa... e a qual eu dedico o título deste blog, dizendo "antes de ti, yo no era yo".
A saudade só não mata porque tem o prazer de torturar. E acreditem, ficar longe de vocês é uma tortura. Até logo.